Cenário internacional
Estados Unidos: Ocupar a presidência do banco central dos Estados Unidos era considerada uma das funções mais importantes do mundo em decorrência da sua influência na economia estadunidense através da política monetária.
Era, porque a pessoa que ocupa essa posição hoje deve exercer também um papel de "animador de torcida" para o mercado. Sempre que Jerome Powell tem um compromisso público, como na última quinta (04/03), os holofotes estão sobre ele. Qualquer deslize no seu discurso ou expressão que abra margem para dupla interpretação por parte de investidores e especuladores pode causar movimentos bruscos nos preços dos ativos.
Mesmo sinalizando que o Fed manterá a taxa de juros próxima de zero por um horizonte de tempo relevante em meio às preocupações sobre o aumento da inflação no país, o mercado reagiu de forma negativa aos comentários de Powell. Apesar do estresse na ocasião, tanto o S&P 500 quanto o Dow Jones fecharam a semana no positivo, enquanto o índice Nasdaq fechou o período em baixa.
Voltando ao pobre Jerome Powell: qual será a sensação de passar anos sendo pressionado pelo presidente Trump e, ao mesmo tempo, ter de corresponder às expectativas do mercado, que parece ter se viciado no excesso de liquidez monetária e juros baixíssimos promovidos pelo Fed?
Uma outra questão ainda mais importante nesse momento é: desde quando as palavras de um banqueiro central deveriam ter mais peso no preço das ações do que a perspectiva de longo prazo das empresas?
De qualquer forma, é bom Powell manter a impressora de dinheiro do Fed bem ligada, se não as crianças do mercado vão fazer mais pirraça.
Volume de ativos no Balanço do Fed (áreas sombreadas correspondem a períodos de recessão nos Estados Unidos)
Na economia real, o mercado de trabalho do país vai bem, obrigado. A geração de empregos divulgada no Payroll referente a fevereiro foi bem maior que a expectativa, enquanto a taxa de desemprego veio menor que a esperada. Enquanto isso, o Senado discute os detalhes finais do pacote de estímulo fiscal proposto pelo presidente Biden para impulsionar ainda mais a recuperação da economia estadunidense.
China: Diante do crescimento econômico vertiginoso, políticas comerciais agressivas e projetos transnacionais como "One Belt One Road", é comum considerar a China um país ousado e com objetivos ambiciosos. Para os próximos meses, no entanto, a realidade parece ser um pouco diferente.
O Partido Comunista Chinês estabeleceu uma meta de crescimento em 2021 classificada por muitos como conservadora: +6,0%. Segundo comentários de Li Keqiang (李克强), primeiro-ministro, o país deve empreender esforços na promoção de reformas, inovação e expansão sustentável sobre bases econômicas de alta qualidade.
Cenário doméstico
Em termos de volatilidade, o Ibovespa não ficou devendo em relação aos mercados internacionais: abriu a semana a 110.000 pontos, caiu até os 107.000 e fechou em torno dos 115.000 pontos.
O mercado doméstico demonstrou muita sensibilidade às notícias sobre o andamento da PEC Emergencial no Senado, que prevê extensão do auxílio com despesas fora do escopo do teto de gastos.
Enquanto isso, o país chegou ao seu pior momento na pandemia com recordes diários de novos casos e mortes, causando o colapso do sistema de saúde em diversas unidades federativas.
O Brasil, inclusive, destoa do restante do mundo nesse sentido. Isso inclui países extensos e populosos. Os Estados Unidos, por exemplo, já parecem se beneficiar do processo acelerado de vacinação. Por outro lado, a Índia permanece como um mistério para os cientistas, já que reúne todos os fatores para uma tragédia (fragilidade sanitária, dificuldade de distanciamento, sistema de saúde despreparado). Fato é que em ambos os países o número de casos cai de forma contínua, ao contrário do que ocorre no Brasil.
Com a derrota de Trump nos Estados Unidos e o enfraquecimento de Matteo Salvini na Itália, aparentemente Bolsonaro ocupa o posto de último populista das grandes democracias do Ocidente. Em meio a uma crise pandêmica que demanda liderança assertiva e coordenada, esse tipo de figura política parece ter perdido seu apelo. Nesse contexto, o Brasil ocupa o posto de mico internacional.
Não à toa a imprensa internacional repercutiu a estarrecedora fala de Bolsonaro em um evento na última semana:
"Temos que enfrentar os nossos problemas. Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?"
Parece que o "mimimi" incomoda mais o presidente do que o número de novos casos e mortes no país.
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