Faltando menos de 24 horas para o dia 01/01, já é possível falar de 2021 no pretérito. Cabe aqui uma retrospectiva relâmpago associada a perspectivas e tendências para 2022.
Potências
Estados Unidos
O fim de ano certamente carrega um tom mais tranquilo do que o seu início, quando ocorreu a invasão ao Capitólio estadunidense por uma turba de radicais. O evento aconteceu em meio à transição Trump-Biden e lançou uma forte preocupação sobre a estabilidade política do país em 2022.
Apesar desse início conturbado, Biden teve um primeiro ano de mandato relativamente tranquilo em casa e complicado fora. Enquanto o novo presidente obteve vitórias na aprovação de estímulos fiscais com apoio bipartidário, a saída militar estadunidense do Afeganistão, marcada pela falta de organização e estrutura, pavimentou o caminho para a retomada do domínio Talibã. Uma derrota marcante dessa administração no âmbito internacional.
A economia do país deu sinais claros de uma recuperação pujante, no entanto, a inflação tornou-se um grande problema, ainda mais com a postura leniente do Fed no decorrer do ano. Com os níveis de preços batendo recordes de 20, 30 anos atrás, o banco central prometeu uma redução no grau de estímulo monetário. Em 2022 já se espera uma trajetória de alta na taxa de juros.
China
A vitória de Biden nos Estados Unidos tornou-se um ponto de atenção para a China, uma vez que, diferentemente da administração anterior, o novo governo tem uma inclinação mais forte para o aumento da presença e influência global estadunidense, algo negativo para os chineses. Inclusive, não há qualquer sinal de redução das divergências entre as duas potências, mesmo com a mudança de presidente nos Estados Unidos. A rivalidade estratégica é latente e o Mar da China é um foco de tensão geopolítica a ser observado em 2022.
Além disso, pode-se dizer que 2021 foi um ano complicado para a potência asiática, principalmente por problemas auto-infligidos. O enrijecimento da regulação sobre edtechs do país afastou investidores estrangeiros, os quais também se assustaram com a falência da gigante Evergrande. Tudo isso ocorreu em meio a uma desalavancagem da economia chinesa visando um crescimento de longo prazo mais sustentável conforme modelo proposto pelo Partido Comunista. Os tempos de expansão do PIB acima de 6% parecem ter ficado para trás.
Não se pode ignorar também a deterioração da imagem internacional da China desde 2020: coronavírus, perseguição aos Uyghurs, Taiwan e o sumiço da tenista Peng Shuai. Todos esses fatores interferem nas pretensões geopolíticas da potência asiática para 2022.
Mercados Desenvolvidos
Reino Unido e Zona do Euro
Depois de um longo e complexo divórcio, Reino Unido e Zona do Euro passaram a maior parte de 2021 definitivamente separados. No entanto, um ponto em comum entre os dois territórios foi a dificuldade em lidar com novas variantes da Covid, sintoma da falta de entusiasmo dos britânicos e europeus com o esquema vacinal completo, algo a ser observado no decorrer de 2022.
Japão
Casa dos Jogos Olímpicos realizados em 2021 e ilha deflacionária em meio a um mundo que sofre com a inflação. A expectativa é que os estímulos fiscais possibilitem um forte crescimento econômico do Japão em 2022, o suficiente para retomar de forma definitiva o patamar pré-pandemia. O que não deve acontecer é uma alta da inflação no país, mesmo com a elevação dos preços de insumos e matérias-primas ao redor do mundo.
Mercados Emergentes
Rússia
Aparentemente a Rússia não teve um papel importante na última eleição presidencial estadunidense, diferentemente de 2016. Apesar disso, os primeiros sinais indicam que sob a direção de Biden a relação entre Washington e Moscou não deve ser tão serena. O contato mais recente entre o presidente dos Estados Unidos e Vladmir Putin expôs discordâncias relevantes, principalmente quando o assunto é Ucrânia ou OTAN.
Um fato negativo para a Rússia nesse fim de ano foi o fato de ter se tornado o segundo país com mais mortes por Covid, ultrapassando o Brasil. Vale relembrar que o governo russo anunciou com bastante alarde em 2020 que havia se tornado a primeira nação com vacina contra o coronavírus, a Sputinik. Esse feito parece não ter sido suficiente para refrear a pandemia no país e nem para oferecer vantagem estratégica para o governo Putin.
Turquia
Quando se tem um presidente disposto a brigar com o mercado financeiro e implementar uma política monetária absolutamente heterodoxa não se pode esperar outra coisa senão fortes emoções. E assim aconteceu na Turquia em 2021. A combinação entre inflação de dois dígitos, depreciação da lira, cortes na taxa de juros e medidas governamentais sobre depósitos bancários tornou o país um caso no mínimo curioso para aqueles que se interessam por economia e finanças. A moeda turca foi a divisa mais volátil entre as emergentes no ano de 2021.
Brasil
O real brasileiro veio logo após a lira em termos de volatilidade cambial. Motivos não faltaram para a trajetória instável da moeda brasileira em 2021: pico da pandemia em março/abril, fraco desemprenho da economia, perda da âncora fiscal e de expectativas da inflação. O Banco Central até tentou através de aumentos sucessivos na SELIC e intervenções no mercado de câmbio, mas o real teve mais um ano de perda de valor frente ao dólar.
Sobre 2022, basta dizer que é ano de eleição presidencial, ou seja, espera-se mais um ano "emocionante" para os investidores brasileiros, que também viram o Ibovespa fechar o período no vermelho após alcançar a máxima histórica dos 130 mil pontos.
Tendências globais
Mercado Financeiro
Logo no início de 2021 ocorreu um fato até então inédito no mercado financeiro: o movimento de investidores de varejo para inflar o preço de "ações memes" (meme stocks), provocando um short squeeze em alguns hedge funds vendidos nos papeis em questão. A atitude foi orquestrada e retroalimentada através de fóruns do reddit e foi representada como a revolta das sardinhas contra os tubarões. O evento, no entanto, se mostrou atípico e não inaugurou uma nova era dos investimentos, como muitos (inclusive eu) acreditavam. De qualquer forma, a repetição desse tipo de ocorrência não pode ser descartada no futuro.
Uma tendência que promete ser mais duradoura e transformadora na indústria financeira é o framework ESG (Ambiental, Social e Governança), que deve fomentar cada vez mais a presença de acionistas ativistas nos Conselhos das empresas e a necessidade de transição energética de companhias focadas em combustíveis fósseis.
Desdobramentos da Pandemia
No encerramento de 2020 a humanidade via uma luz no fim do túnel. Agora, parece que realmente estamos chegando ao final deste em termos de adaptação à Covid mediante vacinas e potenciais tratamentos. A existência de variantes mais infecciosas e nocivas representa um risco relevante que deve perdurar durante meses, até anos, mas aparentemente estamos mais próximos do fim do que do começo.
Acredito que é com esse olhar mais esperançoso que devemos entrar em 2022.
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