Cenário internacional
Estados Unidos: O cidadão estadunidense não tem descanso nesse início de 2021. Enquanto o país digeria a absolvição de Trump no Senado em um processo de impeachment - mais um dos vários episódios turbulentos na cena política local - uma onda de frio alcançou diversos unidades federativas de forma contundente, principalmente o Texas, que está em estado de emergência. Até o momento, foram contabilizadas mais de 20 mortes.
Na cena econômica, o evento mais interessante na semana foi a ata do FOMC, o comitê de política monetária do Fed, referente à reunião de janeiro. O banco central dos Estados Unidos reafirmou sua política de estímulos com taxa de juros em 0% - 0,25% e volumes expressivos de compra de ativos. No documento, os membros do FOMC declararam que as condições econômicas do país estão longe das metas de longo prazo da instituição monetária.
Os investidores, no entanto, estão com uma percepção diferente do Fed no momento. Existe uma preocupação do mercado com a possibilidade de alta da inflação nos Estados Unidos. Essa visão é baseada em três fatores:
Pacote fiscal do governo Biden que deve ser aprovado ainda este mês e injetar um 1.9 trilhão na economia do país;
Progresso da vacinação, que deve possibilitar uma forte retomada da atividade econômica;
Demanda do consumidor "reprimida" após um longo período de lockdown intermitente e incertezas.
As condições acima aumentam a possibilidade de forte elevação da demanda, o que pode pressionar a inflação. Caso isso ocorra, o que a autoridade monetária geralmente faz? Adoção de uma postura mais restritiva, o que inclui o aumento na taxa de juros, algo que o Fed sinalizou que não deve ocorrer até 2023.
Isso tudo indica que a expectativa de inflação dos agentes econômicos não está bem ancorada, o que é péssimo para o banco central, que perde a capacidade de tornar as suas ações mais previsíveis e diminuir o grau de incerteza.
O rendimento dos títulos de 10 anos dos Estados Unidos (Treasury Yields), que costuma ser um bom termômetro da expectativa de inflação dos investidores, têm apresentado forte alta desde o início de 2021 e está próximo da máxima dos últimos 12 meses.
Rendimento dos títulos de 10 anos do governo estadunidense
Fonte: TradingView
Cenário doméstico
Tweet de Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central do Brasil (1997 - 1999), criticando ironicamente a troca de comando na Petrobras.
O aumento sucessivo do preço da gasolina e do diesel provocaram críticas. As críticas se tornaram promessas de intervenção, que foram seguidas pela ingerência política consumada. O presidente Bolsonaro decidiu trocar o comando da Petrobras, substituindo Roberto Castello Branco pelo general Joaquim Luna e Silva. A última vez que um militar havia presidido a estatal foi há mais de 30 anos.
O movimento controverso tem uma clara motivação populista: a disputa presidencial já ocorre no ano que vem e o apoio ao presidente perdeu força após as demonstrações de inépcia no processo de vacinação. A troca visa atender o anseio de Bolsonaro de impedir uma escalada no preço da gasolina, acalmando não só o cidadão brasileiro como principalmente os caminhoneiros, que há pouco tempo falavam de greve.
A ação do presidente foi duramente criticada por diversos economistas, enquanto os investidores sentiram um frio na espinha ao atestar mais uma vez a fragilidade institucional do país.
Segundo o novo comandante da estatal: "É preciso olhar o investidor, mas também o brasileiro". A aprovação do general depende do Conselho de Administração da Petrobras, que se reúne na próxima terça (23/02) para deliberar a questão.
Fica cada vez mais evidente a falta de sintonia entre as ideias defendidas pelo presidente e a agenda da equipe econômica, que já teve desfalques relevantes como a saída de Salim Mattar, que na época cuidava das privatizações e afirmou não ter possibilidade de concretizar as vendas de empresas estatais. Paulo Guedes continua, mesmo tendo sua figura enfraquecida por Bolsonaro em diversas ocasiões. Aparentemente, a equação Presidente Populista + Ministro Liberal não tem solução.
Mercado financeiro: É claro que com a troca arbitrária no comando da Petrobras o mercado ficou "irritadinho".
As ações da estatal tiveram forte queda na curta semana de negócios em função do Carnaval: PETR3 (Ordinária) com -4,91% e PETR4 (Preferencial) com -3,90%.
O Ibovespa foi "puxado" pelo movimento dos papeis da Petrobras, uma vez que, somadas, PETR3 e PETR4 representam quase 10% do índice brasileiro conforme composição mais recente da carteira teórica. Esse peso é muito relevante e interfere na performance do Ibovespa, que "perdeu" aquele canal de alta desenhado desde novembro/2020.
Gráfico diário do IBOV (Ibovespa)
Fonte: TradingView
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