Foi uma das decisões menos "cantadas" dos últimos tempos. Não haviam dúvidas sobre a direção da taxa de juros após a reunião do COPOM realizada nessa semana, mas faltava um consenso do mercado a respeito da magnitude do ajuste na SELIC. Diante da dinâmica inflacionária no Brasil e no mundo, além da perda da "âncora" fiscal representada pelo teto de gastos, o comitê aumentou a taxa básica em 150 pontos-base, de 6,25% para 7,75%.
O comunicado após a decisão deixou claro que o aperto monetário continua em ritmo forte. Novo ajuste de 1,5% já sinalizado para a próxima reunião, a última do ano. O que não ficou claro é que o cenário-base do Bacen assume uma SELIC a 8,75% no final de 2021, o que não condiz com os 9,25% indicados pela instituição. Enfim...
Nesse cenário, dois desdobramentos perigosos estão em andamento no Brasil. O primeiro é a inversão da curva de juros do país, evento atípico que costuma preceder recessões.
Fonte: https://www.anbima.com.br/pt_br/informar/curvas-de-juros-fechamento.htm
Um segundo fator é a dominância fiscal, o que em poucas palavras significa que a política monetária perde efetividade na busca pela estabilidade de preços e pleno emprego, ou seja, o BC está sozinho na luta conta a inflação. Isso se deve ao fato do governo já ter implodido o teto de gastos sem dar indícios de uma gestão responsável das suas contas no futuro.
Evidentemente que a bolsa não sairia ilesa dessa situação. Em outubro, o Ibovespa caiu -6,74%, quarto mês seguido de queda e o pior desde março/2020.
Apesar dos problemas que o Brasil enfrenta e de estar isolado, o BC ao menos é autônomo, ao contrário do que acontece na Turquia. O presidente Erdogan trocou peças importantes na autoridade monetária em outubro para levar adiante a sua agenda de cortes na taxa de juros local. Não à toa a lira turca tem se depreciado de forma contínua frente ao dólar nos últimos tempos.
Além disso, Erdogan quase expulsou embaixadores dos Estados Unidos, Alemanha e França por terem se posicionado a favor da liberação de Osman Kavala, ativista e filantropo acusado de participar de uma tentativa de golpe de Estado em 2016. A ameaça não foi concretizada, mas tornou-se mais um episódio relevante de uma liderança populista e imponderada à frente de uma economia emergente, caso semelhante ao do México, Índia e do próprio Brasil.
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