A imagem de capa é a pintura "Oedipus and the Sphinx" (circa 1806 - 1808) de François-Xavier Fabre. A obra mostra Édipo tentando decifrar o enigma da Esfinge, situação parecida com a dos investidores que ainda não entenderam se o comunicado do COPOM após a decisão de quarta (22/09) foi hawkish ou dovish.
Cenário internacional
O começo da semana foi carregado de tensão e receio sobre o futuro da Evergrande, a gigante do setor imobiliário chinês afundada em dívidas colossais. As bolsas ao redor do mundo tiveram forte queda na segunda, demonstrando o estresse dos investidores com o risco de contágio em caso de falência da companhia.
A tempestade, no entanto, passou rápido. No restante da semana, os índices de ações reagiram bem (incluindo o abatido Ibovespa) após sinais implícitos por parte do Partido Comunista e do PBOC (banco central) de que a situação não vai descarrilhar. Enquanto a instituição monetária tem promovido injeções de liquidez para estabilizar o mercado financeiro do país, o governo está supostamente em tratativas para nacionalizar a Evergrande e assumir o seu gigantesco passivo.
A questão é que há muito mais coisa em jogo do que o destino da incorporadora imobiliária. A queda da Evergrande pode causar um cataclismo no setor imobiliário da China, default para investidores e bancos, além do desemprego de centenas de milhares de trabalhadores chineses, o que seria um golpe no projeto de estabilidade social do Partido Comunista. Tudo isso poderia causar uma desaceleração na economia da potência asiática, que é a principal parceira comercial de quase todos os países. Ou seja, trata-se de um problema em escala global, cuja solução ainda não está clara.
Enquanto isso, o Fed manteve a taxa de juros onde já estava (0% a 0.25%), mas sinalizou o famoso "tapering" se a recuperação dos Estados Unidos mantiver o ritmo atual. Em relação às últimas reuniões, mais membros do FOMC enxergam uma elevação nos juros já no ano que vem, sendo que o diagnóstico inicial era que isso ocorresse apenas em 2023. Esse quórum de alta em 2022 já compõem metade do comitê de política monetária.
Cenário doméstico
Águia ou pomba? Na quarta, o COPOM se reuniu para discutir o aumento na taxa de juros. Diante da depreciação insistente do real frente ao dólar - mesmo com um diferencial de juros já favorável para a divisa brasileira - e com a instabilidade entre os poderes evidenciada no 7 de setembro, parte do mercado esperava um aumento até superior a 100 pontos-base na SELIC. O Banco Central, no entanto, aumentou a taxa em "apenas" 1% e lançou uma comunicação ambígua ao mercado depois da decisão.
O comitê reconheceu dois novos fatores de risco para economias emergentes:
Estimativa de desaceleração nas economias asiáticas devido à variante Delta
Aperto monetário por bancos centrais de economias emergentes em reação a pressões inflacionárias, o que inclui o próprio Brasil.
Enxergando um balanço de riscos mais pesado para o lado de inflação alta, o COPOM decidiu aumentar a taxa de juros em 100 pontos-base e sinalizou um novo ajuste na próxima reunião, possivelmente de 1% também. A comunicação estava conforme o esperado até o COPOM afirmar que a política monetária pode ser ajustada dependendo da evolução da atividade econômica e das expectativas de inflação.
Nada errado no teor da sentença, no entanto, o mercado não esperava esse tipo de condicionalidade. Os investidores estarão ansiosos pela ata do COPOM a ser divulgada na terça (28/09).
E não dá para relevar o fato de que o Ibovespa quebrou uma sequência de 3 semanas negativas ao subir +1,65% na semana. Apesar disso, dificilmente o índice brasileiro apagará as perdas acumuladas de setembro (-4,63%) na semana de encerramento do período.
Talvez por esse resultado, ativistas do MTST invadiram a sede da B3 para comemorar. O grupo, inclusive, aproveitou o fim da pandemia para se aglomerar no prédio fechado da Bolsa de Valores.
Fonte: Exame
Por último, vale o destaque para o "bonde da Covid" em terras nova-iorquinas, composto por Bolsonaro e seus blue-caps . O presidente - único líder de Estado do G-20 a não ter tomado vacina - deu um discurso na Assembleia da ONU tão desconexo com a realidade do Brasil que parecia estar falando em novilíngua.
Na viagem, o Ministro da Saúde contraiu Covid. Queiroga está em quarentena e passa bem, hospedado com o devido isolamento em um hotel com diárias bem caras em Nova Iorque.
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