A imagem de capa é a pintura "Ships in Distress in a Storm" (circa 1720-1730) de Peter Monamy. A obra mostra navios quase indo a pique em meio a um mar revolto, o que representa o mercado imobiliário chinês atualmente. O setor está sob risco de colapso em caso de falência da Evergrande.
Cenário internacional
Semana difícil para a China. O Partido Comunista está com uma bomba relógio na mão chamada Evergrande, a incorporadora imobiliária mais endividada do mundo que caminho a passos largos para a bancarrota. A companhia tem uma obrigação de juros referentes a títulos de dívida que totalizam cerca de US$ 80 milhões de dólares com vencimento na próxima semana e a probabilidade destes pagamentos serem honrados é baixíssima.
Diante do risco de contágio para o setor imobiliário chinês, economia local e, consequentemente, a economia global, alguma intervenção de Pequim é esperada. Só não se sabe como e em que grau esse socorro ocorrerá. Segundo Stephen Engle da Bloomberg, a Evergrande está considerando vendas de propriedades imobiliárias diretamente para os seus investidores e até mesmo a funcionários para pagar salários atrasados.
O banco central chinês (PBOC) fez uma grande injeção de liquidez na sexta (17/09) para estabilizar o mercado financeiro do país em meio a todo esse cenário de nervosismo e incerteza, que não só é de interesse da China, mas também dos investidores internacionais sujeitos ao risco de calote da Evergrande.
Se em casa não há paz para os chineses, no ambiente externo ocorre o mesmo. Uma notícia que irritou Pequim foi a criação do pacto de segurança AUKUS (Austrália, Reino Unido e Estados Unidos). Mediante essa aliança, os australianos terão acesso a tecnologias de ponta, principalmente submarinos.
A coalizão é vista como uma oposição clara aos chineses. Um ponto nevrálgico na geopolítica da região é o Mar da China Meridional, objeto de disputa estratégica entre potências e países do Extremo Oriente. A AUKUS torna-se um novo elemento nesse ambiente tenso. O embaixador chinês em Washington condenou a iniciativa, classificando-a como um caso de “mentalidade de Guerra Fria e preconceito ideológico”.
Por fim, a China também está envolvida em um possível escândalo no FMI (Fundo Monetário Internacional), mas o holofote está voltado mesmo para Kristalina Georgieva, líder da instituição. Ela é acusada de pressionar suas equipes para emitir visões favoráveis à potência asiática no relatório Doing Business 2018 quando era CEO do World Bank, instituição internacional que financia projetos de desenvolvimento em mercados de fronteira e emergentes. A motivação seria a obtenção de capital da própria China para o instituto.
Cenário doméstico
Se a expectativa era de bonança após a tempestade do último 7 de setembro, a realidade foi diferente, pelo menos no mercado. Ainda que possam ser contabilizados alguns dias sem atrito público entre os poderes, o Ibovespa refletiu bastante desassossego e aversão ao risco por parte dos investidores: Queda de -2,49% na semana e cerca de -15% de baixa em relação à máxima histórica.
Uma notícia que pode ter contribuído para o clima pesado no mercado foi o anúncio de aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para financiar o novo Bolsa Família. A mudança na alíquota de 1,50% para 2,04% para Pessoas Jurídicas e 3,00% para 4,08% para Pessoas Físicas passa a vigorar na próxima segunda (20/09).
O reajuste tributário encarece o crédito em um cenário de alta inflação e recuperação arrastada da economia brasileira. “Solução ruim e ineficiente que vai dificultar o crescimento", nas palavras do ex-presidente do Banco Central Ilan Goldfajn.
Enquanto o cenário nacional se deteriora, as expectativas dos agentes econômicos começam a mudar. A pesquisa do Focus já mostra uma queda na estimativa do PIB (de 5,24% há um mês para 5,08% no mais recente) e SELIC a 8,00% no final de 2021. Na próxima semana o COPOM se reúne entre os dias 21 e 22 para aumentar novamente a taxa de juros, e esse reajuste pode ser até maior do que 100 pontos-base, conforme expectativa de alguns setores do mercado.
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