A imagem de capa é a pintura Bacco (1596) de Caravaggio. A obra retrata o deus grego Baco, ligado ao vinho e à festividade. O paralelo nesse caso é com o Fed, cuja injeção de estímulos (o vinho) tem incentivado níveis alarmantes de tomada de risco no mercado (a festa). Quando o vinho acabar...
Cenário internacional
O Fed voltou ao holofote do mercado nos últimos dias com dois eventos relevantes. Na semana anterior foi divulgada a ata do FOMC referente à decisão de 27-28 de julho. Havia uma expectativa de sinalização sobre "tapering", a redução do ritmo de compra de ativos feita pelo banco central estadunidense. E de fato os membros do FOMC discutiram essa possibilidade ainda em 2021:
"Olhando adiante, a maioria dos participantes notou que, diante da evolução da economia em grande parte dentro do que era antecipado, seria apropriado iniciar a redução do ritmo de compra de ativos neste ano."
No entanto, o comitê ainda enxerga o mercado de trabalho abaixo do progresso substancial esperado. Tendo isso em vista, o Fed fez questão de desenhar uma linha de separação bem clara entre tapering e alta de juros, ou seja, a realização do primeiro não implica uma concretização da segunda.
Já na sexta dessa semana, Jerome Powell falou no tradicional Simpósio de Jackson Hole, evento que era muito esperado em face do que havia sido sinalizado na ata pelo FOMC. O presidente do Fed iniciou a sua fala discutindo a desigualdade na recuperação da economia e a fraqueza do setor de serviços nos Estados Unidos.
Sobre política monetária, Powell relatou preocupação com os indícios inflacionários, mas afirmou que o aumento dos preços estão concentrados em bens duráveis (automóveis, televisores, geladeiras) e ratificou que o Fed vê o fenômeno como temporário. Ademais, o presidente do banco central apontou que os aumentos dos salários (wage increases) não têm sido agudos a ponto de causar uma espiral de aumento nos preços de bens e serviços.
No momento mais esperado do seu discurso, Powell lembrou que o FOMC decidiu anteriormente manter o ritmo de compra de ativos até o mercado de trabalho apresentar melhoras significativas, o que segundo Powell, aconteceu. Ou seja, o tapering deve de fato acontecer (não se sabe a partir de quando exatamente), mas dois pontos foram ressaltados: o Fed não irá "desinchar" o seu balanço nesse momento; elevação de taxa de juros é outra conversa. A ver como os mercados reagem daqui para frente.
Fora de casa, o assunto mais importante continua sendo o Afeganistão. Se a tomada relâmpago de poder pelo Talibã já era negativa para a administração Biden, a gravidade da situação piorou ainda mais após um ataque suicida no aeroporto de Kabul, onde milhares de pessoas estão aglomeradas na esperança de deixar o país.
O ataque terrorista, marcado pela covardia e vileza, foi perpetrado por um inimigo comum dos Estados Unidos e Talibã: ISIS-K, o braço afegão do Estado Islâmico na província de Khorasan. Como referência, vale destacar que o grupo é ainda mais extremista do que o próprio Talibã no espectro do fundamentalismo islâmico.
Entre os mais de 80 mortos, haviam civis e militares estadunidenses. Após o ataque, Biden declarou em tom revanchista que os autores serão caçados e que o ato não será esquecido. Enquanto isso, vários países continuam empenhados na evacuação dos seus cidadãos até o final deste mês, prazo que o Talibã não está disposto a negociar.
Cenário doméstico
O Ibovespa quase apagou as perdas contundentes da semana anterior devido a uma alta vigorosa de +2,22%, sua maior valorização semanal dos últimos 3 meses. Ainda assim, o índice do mercado brasileiro está em baixa em agosto, com queda de -0,92% faltando dois pregões para o encerramento do mês.
O repique em questão foi causado por melhora no ambiente fiscal ou político? Certamente não, pois essas instâncias não mudam profundamente em questão de dias.
A narrativa que predominou na semana foi a crise hídrica do país. Virou notícia a declaração de Guedes minimizando o aumento da conta de luz. Apesar do seu respeitável currículo e preparo técnico, o ministro demonstra um talento nato para falar frases polêmicas e desconexas com a realidade do povo brasileiro.
A conta de luz vai aumentar, e com ela a inflação, que já está navegando em águas distantes da meta do Bacen.
Já o dólar caiu forte frente ao real na semana (-3,26%) e fechou o período em R$ 5,20.
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