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[Semana 30/52] Panorama semanal


Cenário internacional


Na semana passada, foi discutido o distanciamento entre China e Ocidente após a declaração da Casa Branca acusando a potência oriental de envolvimento em crimes cibernéticos, incluindo o ataque hacker à Microsoft neste ano. Nos últimos dias, o governo chinês aumentou ainda mais esse abismo com uma repressão ao setor educacional privado do país.


A China proibiu que empresas focadas em tutoria - método bastante difundido no país como forma de preparar os alunos para a alta carga de provas, além de complementar a educação tradicional - possam auferir lucro ou levantar recursos no mercado de ações.


O anúncio pegou de surpresa muitos investidores estrangeiros que têm capital aplicado em companhias como Tal Education Group e Gaotu Techedu Inc, cujas ações praticamente pulverizaram nos últimos dias e já têm queda acumulada de -90% em 2021.


Para se ter ideia do impacto dessa sangria nas ações de edutechs chinesas, é importante ressaltar que "investidores estrangeiros" vai muito além de magnatas com portfólio diversificado a nível global. Alguns perdedores dessa história são fundos de pensão (focados em geração de renda para aposentadoria), como o The Healthcare of Ontario Pension Plan Trust Fund e o Public Employees Retirement Association of Colorado, além de um tal de The Monetary Authority of Singapore, nada menos que o banco central de Cingapura.


Mas nem todo mundo está assustado com a ação do governo chinês. Mark Mobius, um dos maiores conhecedores de mercados emergentes na área de investimentos, declarou que, na verdade, o movimento é bom para o mercado no longo prazo, pois fomenta maior competição e possibilita o crescimento de pequenas e médias empresas nos setores afetados pela regulação governamental.


Para muitos, o evento demonstra o peso da educação no ideário comunista defendido pelo governo local. A repressão chinesa sobre o setor educacional privado é só mais um capítulo da demonstração de força do Estado contra as techs do país, como Alibaba e Didi. A China deu um enorme passo para fechar o seu mercado financeiro ao interesse de estrangeiros. E assim abre-se o campo para Biden continuar a sua cruzada de união do Ocidente contra a potência asiática.

 

Já nos Estados Unidos, o Fed foi o destaque da semana. A decisão de taxa de juros do banco central estadunidense não surpreendeu, uma vez que o mercado já esperava que o indicador continuasse no patamar de 0% a 0,25%.


O momento mais aguardado de fato era o discurso de Jerome Powell após a reunião do FOMC. A expectativa era de que o líder da autoridade monetária sinalizasse a intenção do Fed de reduzir o ritmo de compra de ativos, detendo o crescimento do balanço do banco central ("tapering").


Em uma fala que aparentou insegurança em alguns momentos, Powell declarou que ainda não tem visto um progresso expressivo no mercado de trabalho em direção ao máximo emprego ("Eu gostaria de ver bons números no mercado de trabalho").


Além disso, Powell reafirmou a posição de que a inflação recente é temporária e convergirá para a meta de longo prazo do Fed. E sobre tapering, Powell sinalizou que a compra de ativos é uma ferramenta essencial para fomentar um cenário de condições financeiras favorável para o crescimento econômico. A mensagem, portanto, foi "nada de tapering", mas se acontecer no futuro, o mercado será avisado com antecedência.


Um problema é que o Fed tem dois mandatos principais na condução da política monetária: pleno emprego e estabilidade de preços. Powell focou bastante no primeiro, nem tanto no segundo.


De qualquer forma, o resultado ruim do PIB estadunidense no segundo trimestre dá força ao argumento do Fed de que a economia ainda não está no seu devido lugar. A taxa anualizada de 6,5% foi bem abaixo da expectativa de 8,5% e demonstra que, mesmo com a reabertura dos negócios e aquecimento do setor de serviços, as restrições do lado da oferta em outros segmentos como indústria e manufatura têm freado a recuperação do país.




Cenário doméstico


No Brasil, poucas novidades na economia e na política. Um dado referente a julho, que se encerrou nessa semana, retrata o quanto o coronavírus ainda tem ceifado vidas no país: as quase 35 mil mortes neste mês ainda superou o pior mês da pandemia em julho/20, quando foram registradas 32.912 mortes. O total de óbitos por Covid já passa de 550 mil.


Enquanto isso, o governo de São Paulo antecipou novamente o calendário de vacinação, permitindo que adolescentes já possam ser imunizados a partir de 18/08. A perspectiva é de flexibilização das medidas restritivas no decorrer de agosto, mas a variante delta lança incerteza nesse cenário.


O Ibovespa fechou a semana e o mês de julho em queda. Já o dólar ganhou força e voltou ao patamar dos 5,20. A combinação de cenário externo mais pesado com variante delta e regulação chinesa junto com o ambiente doméstico pouco tranquilo impedem uma alta consistente nos ativos da bolsa.


Um fator interno que tem viés negativo, inclusive, é a inflação local, que deve se agravar ainda mais com a onda de frio que ameaça plantações no Sul e Sudeste. Com a perda de alguns alimentos devido às condições do tempo, a oferta fica mais restrita e favorece novos aumentos no preço.


E é nesse contexto que o Bacen volta à cena na próxima semana para a decisão da SELIC. Pela primeira vez o FOCUS (divulgado em 26/07), que traz o sumário das expectativas de mercado, aponta para uma taxa de juros em 7% no final de 2021. Isso corresponde a uma distância de 225 pontos-base da SELIC atual, mas esse percurso pode ser, de fato, percorrido rapidamente. Grande parte do mercado já espera ajuste de +1% pelo COPOM, levando a taxa de juros a 5,25% na quarta (04/07). Ajuste contundente diante de uma inflação crescente.

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