Cenário internacional
O início da semana foi tenso no mercado financeiro. Temores relacionados à variante Delta derrubou os principais índices estadunidenses, com destaque para o S&P 500, que teve o pior pregão dos últimos dois meses na segunda (19/07).
A cepa da Covid descoberta em território indiano realmente preocupa, pois já é dominante em diversos locais e tem maio grau de transmissão. Um forte aumento de novos casos tem sido registrado na Europa Ocidental e Estados Unidos, países com um processo de vacinação adiantado e planos de flexibilização total das medidas restritivas. A chefa do CDC (Centers for Disease Control and Prevention), Rochelle Walensky, destacou que a predominância da variante (representando mais de 83% do vírus em circulação) no território estadunidense constitui mais um "momento fundamental" na pandemia.
A frustração do mercado vem da ameaça à recuperação vivaz que muitos esperam nos próximos meses. Considerando que essa não será a última variante do vírus e que a vacinação não segue o mesmo ritmo ao redor do mundo, é provável que, ao invés de pavimentada e tranquila, a estrada para a recuperação econômica global seja marcada por obstáculos e quebra-molas.
Nesse cenário, o risco de contágio e ciclo vicioso entre sistema financeiro e economia real é relevante. O Banco Central do Japão (BoJ) discute esse tema no seu mais recente Outlook for Economic Activity and Prices:
"Se a Covid-19 tiver um impacto maior que o esperado, há um risco de que a deterioração na economia real afete a estabilidade do sistema financeiro, o que por sua vez exerce uma pressão negativa ainda maior na economia real."
Apesar disso tudo, o humor do mercado melhorou rápido. Com as altas nos dias subsequentes, as perdas de segunda foram apagadas nos principais índices internacionais.
Na política, a difícil relação entre estadunidenses e chineses ganhou um novo capítulo importante. Em uma declaração rara e muito contundente, a Casa Branca acusou a China de se envolver em "atividades cibernéticas maliciosas e comportamento de Estado irresponsável." A tensão entre as duas potências vai muito além de Trump.
Interessante notar que os Estados Unidos não estão sozinhos nessa postura: União Europeia, Reino Unido e OTAN estão na coautoria da declaração. O principal ponto é a acusação de que os chineses estavam por trás do ataque cibernético à Microsoft em março deste ano.
E assim a complexa relação entre Ocidente e China ganha um novo capítulo. Ao mesmo tempo em que há uma enorme interdependência entre a potência chinesa e as economias avançadas - cadeias logísticas, acesso a mercado consumidor, relações comerciais e sistema financeiro - existe também um abismo entre o que as democracias ocidentais defendem e o governo chinês pratica (perseguição aos Uyghurs, postura em relação à Taiwan, arbitrariedade com as big techs locais).
Cenário doméstico
No Brasil, a questão do voto impresso continua a tomar conta das discussões políticas, ainda que pareça ser um tema de baixa relevância perante os desafios que o país enfrenta no momento.
No decorrer da semana foi ventilada a notícia de que o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, teria encaminhado ao presidente da Câmara uma ameaça de que não haveria eleição no ano que vem se não fosse por voto impresso, pauta defendida de forma tenaz pelo presidente. O cheiro lúgubre de golpe militar teria preocupado Lira, o qual indicou a Bolsonaro que não teria participação em uma ruptura institucional.
Todos os envolvidos, no entanto, negaram a história. Não se sabe se o rumor foi mais uma peça de ficção na saga política brasileira.
Uma situação que se tornou realidade foi o abraço apertado entre Bolsonaro e Centrão. O presidente, que prometia o fim do presidencialismo de coalização, parece ter percebido que esse grupo, que pode ser chamado de "apêndice do sistema político nacional", tem mais poder do que aparenta.
Resultante desse processo de aproximação, Ciro Nogueira (PP) assumiu a Casa Civil, o ministério mais importante na visão do presidente. Guedes ressaltou que o escolhido é grande apoiador das reformas no Senado.
O movimento ocorreu em meio a uma mini dança das cadeiras, na qual foi adicionada um assento para ninguém ficar sem lugar. A recriação do Ministério do Trabalho elevou o número de pastas do atual governo para 23, contrariando a postura de Bolsonaro no início do mandato, que começou o seu período com 15 ministérios e criticava o "loteamento" do Estado.
O anúncio foi coroado por expressões como "eu sou do Centrão" e "eu nasci de lá".
Para encerrar a semana agitada do mandatário do país, Bolsonaro declarou o seguinte sobre a economia brasileira (minuto 37:00 deste vídeo):
"Um crescimento de 5% positivo este ano. Se é 5% positivo, o ano passado foi 4% negativo, crescemos 9%. Isso é um milagre!"
Está mais para milagre na matemática do que na economia.
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