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[Semana 28/52] Panorama semanal


Cenário internacional


Conforme a pandemia estendia os seus tentáculos mundo afora, existia a sensação de que esse vírus, além de ceifar a vida de milhões de pessoas, tinha o potencial de expor cicatrizes políticas e sociais. Assim tem sido em Cuba, país cuja principal fonte de recurso vem da atividade mais afetada pela Covid: o turismo.


A charmosa ilha tem registrado protestos intensos nos últimos dias, algo muito raro desde a ascensão do comunismo no país. Os baluartes do orgulho cubano representados por Che Guevara e a família Castro ficaram no passado. Enquanto isso, novas gerações têm demonstrado profundo incômodo com o regime fechado e opressor de Cuba.


A combinação de escassez de alimentos e remédios, escalada de novos casos de Covid e a crise econômica na ilha eclodiu uma série de manifestações contra o regime. O governo local tem usado o artifício de cortar o acesso à internet para mitigar a articulação das pessoas, recurso também utilizado por autoridades estatais durante a Primavera Árabe de 2011.


Parece questão de tempo até o regime ditatorial de Cuba ruir. Resta saber se terá perestroika (abertura econômica), ou glasnot (abertura política) ou ambas (ou nenhuma).


Por motivos diferentes, a África do Sul também mergulhou em uma onda de sublevação social. A prisão do ex-presidente Jacob Zuma, figura complexa com um passado de luta contra o apartheid e ligação com esquemas de corrupção, causou revolta nos seus apoiadores. A detenção se deve à sua ausência na Corte de justiça durante as investigações sobre o seu suposto envolvimento em um acordo bilionário com uma companhia francesa de armas.


Os protestos já deixaram dezenas de mortos e um rastro de destruição nas principais cidades da economia mais avançada do continente africano.


Já nos Estados Unidos, a tensão tem personagens e contornos diferentes. Investidores continuam preocupados com a postura do banco central estadunidense perante a inflação, que atingiu em junho o seu maior patamar nos últimos 13 anos medida pelo CPI. O core CPI (excluindo alimentos e combustíveis) veio no maior nível desde os anos 90. O Fed, que já está se tornando persona non grata diante do mercado, faz sua decisão sobre a taxa de juros em duas semanas, mas espera-se a manutenção do indicador em zero.

Algo que de fato se discute no momento é o "tapering", ou seja, a redução no ritmo de compra de títulos feita pela instituição, um dos instrumentos de estímulo monetário do Fed. O membro do FOMC Fed Bullard avisou que não dá pra ligar o piloto automático na situação atual.


Vejamos o que o Fed trará de novo no final de julho.



Cenário doméstico


Em uma semana com poucas novidades na economia nacional, o resultado do IBC-Br de maio representou uma frustração para os mais otimistas com o Brasil até o momento. O indicador divulgado pelo Bacen é considerado uma prévia do PIB, sendo, portanto, uma espécie de termômetro da atividade no país. O dado veio abaixo da expectativa: -0,43% reportado contra um crescimento de +1% esperado em relação à abril.


O resultado, no entanto, não é consenso. O Monitor do PIB divulgado pela Fundação Getúlio Vargas reportou alta de +1,8% no período, na contramão da métrica do banco central. O ponto no qual todas as partes concordam é que a economia do país ainda está longe do patamar pré-pandemia e o caminho da recuperação ainda é longo.


Apesar do número, o cenário é de fato promissor na economia doméstica. A pandemia tem apresentado um vigoroso arrefecimento e a média móvel de mortes voltou ao nível registrado no início de março, mês que inaugurou o período mais sombrio da Covid no país. A situação melhorou, mas a continuidade desse quadro está condicionada ao avanço da vacinação, ainda mais com a variante delta assustando o mundo.


Apesar do caminho aberto para acelerar o passo na recuperação, o Brasil tem o talento de tropeçar no próprio cadarço. A instabilidade política no país é tão certa quanto a lei da gravidade e o projeto de reforma tributária mostrou que a equipe responsável está disposta a complicar as coisas, ao invés de simplificar.


Amarra o cadarço, Brasil.

 

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