Cenário internacional
A semana foi agitada no mercado estadunidense. Na quarta (12/05), foi divulgado o Consumer Price Index (CPI), principal índice de preços ao consumidor do país. O número assustou os analistas: alta de 4,2% na base anual para o headline (resultado total da cesta) e aumento de 3,0% no core (núcleo, que exclui combustíveis e alimentos pela volatilidade dos preços). No caso específico do núcleo do CPI, foi a maior alta dos últimos 25 anos.
O dado foi um prato cheio para os economistas que têm pregado sobre os supostos excessos nas políticas monetária e fiscal sobre o nível de preços da economia estadunidense. O mercado reagiu de forma contundente, com o VIX subindo mais de 26% na ocasião. Nos pregões seguintes, no entanto, os principais índices de ações apagaram as perdas do dia.
Algumas perguntas que devem ficar na cabeça dos investidores daqui para frente são: será que o resultado do CPI em abril reflete uma dinâmica pontual ou início de uma alta persistente da inflação? Caso positivo, o Fed reagirá a tempo?
Nesse caso, é importante ressaltar que o banco central estadunidense prefere analisar de forma mais cuidadosa outra métrica de inflação: o Personal Consumption Expenditure (PCE), mais focado no consumo das famílias. Assim como o núcleo do CPI, o core PCE subiu bem em março, mas o resultado de abril sai apenas no dia 28/05. Um dado para ficar de olho, pois três semanas depois desse indicador o FOMC volta a se reunir.
Nesse momento, o FedWatch Tool da CME (Chicago Mercantile Exchange) indica 91% de probabilidade de manutenção dos juros na próxima reunião e 9% para um aumento de 25 pontos-base (+0,25%). Os números são calculados com base em contratos futuros do Federal Funds Effective Rate (FFER). Façam suas apostas.
Juntando o resultado do mercado de trabalho reportado na semana anterior, o que justifica um Payroll recente fraco e o concomitante aumento da inflação no período? Alguns analistas acreditam que essa combinação é causada por uma escassez de mão-de-obra (labor shortage). Há relatos quase anedóticos de empresas que supostamente estariam pagando para que as pessoas ao menos aparecessem nas entrevistas de emprego.
Enquanto a economia do país começa a sentir os efeitos de uma reabertura total após uma acelerada imunização, aparentemente nem todos estão dispostos a voltar ao mercado de trabalho agora. Um motivo provável para isso seriam os cheques de estímulo distribuídos pelo governo Biden, que teoricamente teriam dirimido a urgência dos cidadãos estadunidenses buscarem emprego.
E toda essa cena fortalece a narrativa de que a inflação, que há alguns anos era tida como morta nos Estados Unidos e demais economias desenvolvidas, está voltando. Abre o olho, Fed 👀.
Enquanto isso, a Índia continua sua batalha intensa contra a pior face do coronavírus. A curva de novos casos começou a cair nos últimos dias, mas o número diários de óbitos ainda cresce.
No Oriente Médio, despejos de famílias palestinas no bairro de Sheikh Jarrah, localizado na Jerusalém Oriental, desencadearam uma onda de protestos que escalou para um conflito bélico de grandes proporções. Até o momento, foram contabilizados 7 mortos israelenses e mais de 100 palestinos, com possibilidade desse número subir ainda mais. Em Gaza, hospitais destruídos tornam quase impossível a missão de cuidar dos pacientes de Covid.
Cenário doméstico
Na CPI da Covid, a novela mais popular do país desde Avenida Brasil, dois personagens importantes participaram dos trabalhos da comissão. Um deles foi Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação com um sobrenome pra lá de complicado e que foi acusado de mentir na sessão. O depoente quase saiu preso por falso testemunho. O presidente da CPI, Omar Aziz, negou a prisão apesar dos pedidos de alguns senadores.
Já o gerente-geral da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, deu declarações preocupantes sobre a falta de empenho e proatividade do governo federal em adquirir 70 milhões de doses da vacina em 2020. No atual ritmo de imunização e necessidade de segunda dose para grande parte da população idosa, esses números fazem falta hoje.
Uma pesquisa eleitoral do Datafolha mostrou os sinais de desgaste da popularidade de Bolsonaro, situação que pode ser agravada pela CPI da Pandemia. De acordo com os dados levantados, a rejeição do governo é maior no Nordeste: 62% não votariam no atual presidente. A região é conhecida por ser um reduto petista e deve se inclinar em 2022 para Lula, o qual lidera as intenções de voto e tem vantagem sobre Bolsonaro (55% x 32%) em um eventual segundo turno.
Durante discurso em Alagoas, o presidente foi contundente com os seus rivais políticos, fazendo menção ao "ladrão de nove dedos" e chamando Renan Calheiros, relator da CPI, de "vagabundo". Ainda é cedo, mas 2022 já começou.
Acompanhando o exterior, o Ibovespa teve queda de -0,13% na semana, mas fechou o período ainda acima dos 120 mil pontos.
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