As "Superquartas" nunca deixam de ser eventos interessantes da agenda financeira, uma vez que Fed e Bacen - os dois bancos centrais mais importantes para o investidor brasileiro - realizam suas decisões sobre a taxas de juros que vigora nos Estados Unidos e Brasil, respectivamente. Nessa semana tivemos mais uma edição esse dia especial.
Cenário internacional
Estados Unidos: As reuniões mais recentes do Fed deixaram de ser apenas sobre a taxa de juros atual, pois o banco central estadunidense já sinalizou que não pretende tirar o indicador do intervalo de 0% a 0,25% tão cedo. O que o mercado espera destes eventos é a visão da autoridade monetária sobre o atual cenário econômico dos Estados Unidos.
E o Fed seguiu a mesma cartilha: o estímulo monetário não vai parar tão cedo. Pelo menos enquanto a economia estadunidense não der sinais muito claros de uma recuperação sustentável.
A questão é que enquanto o Fed reafirma que a inflação pode até ficar acima de 2% se for de caráter temporário, o mercado demonstra muito receio com a possibilidade de uma reflação que obrigue o banco central a subir juros rapidamente. A escalada recente nas yields dos títulos longos dos Estados Unidos já é comparável ao infame episódio do Taper Tantrum de 2013.
Herói para uns e vilão para outros, o Fed não consegue transmitir sua mensagem para o mercado e vice-versa. É quase uma Torre de Babel entre banco central e investidores.
Mas nem mesmo no próprio FOMC existe um consenso inabalável: alguns membros do comitê já enxergam a possibilidade de aumento dos juros no ano que vem, conforme mostrado gráfico de pontos (Dot Plot) do Fed. A mediana ainda aponta para uma taxa próxima de zero até 2023, mas o mercado não acredita nisso.
Via Bloomberg. Fonte: Federal Reserve
Cenário doméstico
Foram seis anos. Um longo período de cortes ou manutenções na SELIC. Nesse período, corretoras e casas de análise não cansaram de nos enviar e-mails com o título "Juros na Mínima Histórica - Onde Investir Agora?"(duvido que você não tenha recebido um desse nos últimos meses). O mercado de ações surfou na onda dos milhões de investidores pessoas físicas que partiram para a renda variável buscando mais retorno. O termo "rentista" tornou-se motivo de vergonha e escárnio.
Não que o ajuste realizado pelo COPOM na última reunião seja suficiente para mudar esse cenário. No entanto, poucas pessoas se lembram da última vez que houve um aumento na SELIC, ainda mais com a magnitude com a qual ocorreu na semana: 75 pontos-base (+0,75%), o que é considerado significativo para qualquer banco central. O aumento surpreendeu boa parte do mercado.
Mas as razões para essa intervenção aguda na taxa de juros são evidentes e autoexplicativas: inflação em uma incômoda trajetória de alta; depreciação contínua do real brasileiro frente ao dólar; juro real negativo (inflação maior que o juro nominal) e fragilidade fiscal. A decisão, portanto, foi considerada acertada, ainda que tardia segundo a visão de parte dos analistas.
No comunicado após a decisão (que não é ata, pois esta será divulgada na próxima semana), o Banco Central bateu na mesa e foi bem claro: inicia-se agora um processo de normalização parcial da política monetária (i.e, redução de estímulos) e um novo aumento de 75 pontos-base deve ocorrer no próximo encontro do comitê. Mensagem "hawkish" do BC, bem diferente do seu primo estadunidense.
Pandemia
A marcha da vacinação continua em grande parte do mundo e tem gerado resultados positivos em alguns países, principalmente Estados Unidos e Israel. A Europa, no entanto, vê indícios de uma terceira onda mesmo com o processo de imunização em andamento. França e Alemanha já avaliam o enrijecimento de medidas preventivas contra a Covid-19 para deter o avanço do vírus enquanto paira uma pergunta no ar: Em que momento a vacinação será suficiente para deter o coronavírus e suas variantes?
No Brasil, o capítulo mais triste da pandemia continua a ser escrito: recorde de novos casos, mortes e indisponibilidade de leitos. Março/2021 já é o mais letal do histórico da doença em território nacional. O cenário do país advém de uma nefasta combinação entre incompetência do poder público e irresponsabilidade de boa parte da população.
Imagem: DeA Picture Library / G. DAGLI ORTI
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