Cenário externo
Coronavírus: O avanço da pandemia de Covid-19 continua em forte ritmo, atingindo de forma mais contundente os Estados Unidos e a Europa no momento. Na Itália, o número de mortes já supera a quantidade registrada na China, epicentro do coronavírus. É do próprio país asiático que vem uma boa notícia: as transmissões locais foram reduzidas drasticamente, dando indícios de controle do processo interno de disseminação do vírus. No entanto, dezenas de casos ainda são reportados por chineses que regressam ao país vindo de regiões afetadas.
Xadrez geopolítico: Tensões entre Estados Unidos e China voltaram à tona após o presidente Trump classificar o Covid-19 de "vírus chinês".
A proliferação mundial do coronavírus tinha o potencial de desgastar a imagem da potência asiática em decorrência da supressão de informações e falta de transparência nos estágios iniciais da pandemia. Apesar da resposta tardia, no entanto, a China tem procurado promover uma cooperação junto aos europeus na tentativa de deter o vírus. Em um mundo sem coordenação global ou poder dominante (G-0), os chineses podem ascender com maior proeminência após essa crise. Enquanto isso, as potências ocidentais procuram entender os efeitos econômicos do coronavírus e quais medidas são apropriadas nesse momento.
Resposta política: Governos e bancos centrais têm utilizado o arsenal fiscal e monetário para responder ao ambiente de recessão causado pelo Covid-19. Apesar de anúncios de pacotes de estímulo e alívio financeiro, além de cortes sincronizados nas taxas de juros, eventos como endividamento das famílias, falência de pequenas/médias empresas e estresse no mercado de crédito são praticamente inevitáveis no curto prazo. Resta saber se a recuperação desse choque será rápida (V shape) ou gradual (U shape).
Cenário doméstico
O Brasil já registra mais de 1200 casos do coronavírus e 18 mortes até o momento. Prefeitos e governadores têm adotado medidas para mitigar o número de infecções, entretanto, a gestão da crise por parte do governo federal é considerada confusa, divisiva e ineficaz. Ian Bremmer, presidente da consultoria de riscos geopolíticos Eurasia Group, elegeu Bolsonaro como o líder mundial com a pior resposta à pandemia nesse momento:
Enquanto o presidente Bolsonaro desgasta seu capital político, Congresso e equipe econômica já trabalham para viabilizar o decreto de estado de calamidade pública, restando apenas a aprovação do Senado. Esse mecanismo permite ao governo descumprir a meta fiscal, situação necessária tendo em visto que o gasto público deve aumentar para conter o avanço do coronavírus no Brasil. A chegada da pandemia no país é um fato que pode comprometer o êxito da agenda liberal do ministro Paulo Guedes, que dificilmente conseguirá aprovar reformas estruturais junto ao Legislativo em 2020.
Agenda econômica
No decorrer dessa semana serão divulgados dados referentes ao mês de março, certamente demonstrando sinais de deterioração econômica:
Na segunda (23/03), o boletim FOCUS do Banco Central do Brasil deve indicar projeções pessimistas dos participantes de mercado para a economia brasileira, principalmente em relação ao PIB. O próprio governo revisou o crescimento do país para 0,02% ao final do ano levando em conta o efeito do coronavírus, que afetará uma economia já fraca e com crescimento anêmico.
Na terça (24/03), números de PMI da indústria e do segmento de serviços referentes a março em países europeus devem mostrar os primeiros efeitos de contração econômica causados pelo Covid-19.
Na quarta (25/03), resultados de inflação no Reino Unido e no Brasil (IPCA-15) devem vir abaixo da meta dos respectivos bancos centrais, evidenciando uma demanda mais fraca por causa do coronavírus.
Na quinta (26/03), o comitê de política monetária do BoE (Banco Central da Inglaterra) se reúne após promover um corte de 15 bps na taxa de juros no último dia 19/03, levando o indicador à mínima histórica no Reino Unido: 0,1%.
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