A Cordilheira do Brasil
- Renan Pereira Bento
- 14 de ago.
- 13 min de leitura
Com cerca de 1.000 km de extensão, a Serra do Espinhaço é a única cordilheira do Brasil e a segunda maior formação montanhosa da América Latina, depois dos Andes. Reconhecida como Reserva Mundial da Biosfera, ela se estende entre Minas Gerais e a Bahia, abrigando uma notável diversidade natural e histórica. Seu nome foi atribuído pelo geólogo, metalurgista e cartógrafo alemão Wilhelm Ludwig von Eschwege, contratado pela Coroa Portuguesa no início do século XIX para avaliar o potencial mineiro do país.
Um atributo peculiar da cadeia montanhosa é a sua reduzida largura, dando-lhe uma configuração longa e estreita, razão pela qual o termo "Espinhaço" descreve a cordilheira de forma apropriada. Ademais, ela serve como divisor de águas entre as bacias do São Francisco e do rio Doce/Jequitinhonha.
Uma característica peculiar da sua compleição é a direção das rochas, que apontam para oeste, de acordo com um experiente guia local. Esse atributo é destacado em um estudo sobre a morfologia do Espinhaço, segundo o qual houve um amalgamento do Supercontinente Gondwana no final do Neoproterozóico (entre 1.000 e 541 milhões de anos atrás) que teria provocado a reativação de estruturas tectônicas, gerando a sobreposição de placas na direção Leste -> Oeste. Um olhar mais atento é capaz de identificar esse curioso desenho da cordilheira.
Rochas da Cordilheira do Espinhaço direcionadas para o oeste. A primeira ocorrência é na Serra da Calçada; a segunda na Lapinha da Serra e as outras duas são na Serra do Cipó. A última foto mostra também a presença de líquen laranja na pedra, marcador natural de pureza do ar.
Outro fato interessante é a existência de pinturas rupestres, um testamento da importância histórica da Cordilheira do Espinhaço no entendimento da trajetória humana desde os primórdios até o povoamento de Minas e do Brasil.
Pinturas rupestres na Cordilheira do Espinhaço: as duas primeiras na linha superior são na Serra do Cipó; as demais estão no Sítio Arqueológico Pedra Pintada, em Cocais.
A sequência de picos, vales e cânions tornam esse tesouro nacional um grande atrativo para turistas e entusiastas da natureza. A diversidade de fauna e flora faz com que a cordilheira tenha especial consideração por parte de geógrafos e geólogos. A riqueza mineral, demonstrada pela existência de jazidas de ferro, manganês, bauxita e ouro, colocam o Espinhaço sob a análise atenta e ambiciosa das grandes mineradoras.
Pontos de Referência da Cordilheira: Cidades e Serras
Serra de Ouro Branco (Ouro Branco - MG)
Marco inicial a partir do sul da Cordilheira com altitude que varia de 1.250 a 1.568 metros. Ponto de separação natural entre importantes bacias hidrográficas da região.
Parque Estadual do Itacolomi (Ouro Preto - MG)
Localizado em Mariana/Ouro Preto, a unidade de conservação tem uma fauna e flora diversificada, além de uma elevação que é símbolo da região: o pico do Itacolomi ("pedra menina", na língua tupi), também denominado "Farol dos Bandeirantes" pelos antigos viajantes da Estrada Real. O pico tem 1.772 metros de altitude e, assim como todo o parque, está fechado com previsão de reabertura para dezembro/2025.
Serra do Gandarela (Ouro Preto/Santa Bárbara - MG)
Criado em 2014, o Parque Nacional da Serra do Gandarela (proveniente do termo galego "gândara", que significa arenoso) abriga riquezas naturais e históricas, incluindo trechos da Estrada Real e grande biodiversidade. A unidade de conservação ambiental localiza-se no "coração" do Quadrilátero Ferrífero - área de muita relevância mineral (presença de ouro, ferro e manganês) e geológica - além de trazer nos seus mais de 31 mil hectares atributos típicos da Cordilheira do Espinhaço: espécies raras na sua fauna e a bela transição entre os biomas Mata Atlântica e Cerrado.
Serra do Caraça (Catas Altas/Santa Bárbara - MG)
A Serra do Caraça abriga um santuário que merece um texto dedicado exclusivamente à sua história por diversas curiosidades:
Primeira igreja neogótica do Brasil, o Santuário abriga o corpo de um soldado romano morto por professar a fé cristã;
O idealizador do santuário, Irmão Lourenço, foi uma figura controversa com passado associado a um atentado contra o rei português Dom José I e à consequente perseguição pelo Marquês de Pombal;
O jantar do lobo-guará no pátio da catedral que tornou-se uma tradição que já dura décadas;
O Santuário também abriga a singular obra de Mestre Ataíde, "A Última Ceia", na qual ocorre o efeito do olhar de Judas Iscariotes para os admiradores da pintura onde quer que estejam na nave da igreja.
Dentre outros fatos interessantes, o termo "Caraça" foi cunhado por bandeirantes para denominar uma famosa formação rochosa na serra que lembra um rosto humano. O Santuário é uma das Sete Maravilhas da Estrada Real e está cercado por uma serra de extrema beleza e importância, pois abriga o ponto mais alto da Cordilheira da Espinhaço: o Pico do Sol, com 2.073 metros.
De cima pra baixo, da esquerda para a direita: totem da Estrada Real na entrada do Santuário do Caraça; Vista do Santuário a partir do Cruzeiro; Picos do Sol e Inficionado; Vista da Serra do Caraça a partir de um dos Mirantes do Santuário; Vista da Serra do Caraça a partir de Catas Altas.
Serra da Calçada, Serra da Moeda e Serra do Itatiaiuçu (Nova Lima/Brumadinho e Itatiaiuçu/Igarapé - MG)
Patrimônio natural e cultural, a Serra da Calçada está localizada entre os municípios de Brumadinho e Nova Lima. Nessa região, destacam-se a trilha do Retiro das Pedras e o Forte de Brumadinho, entreposto comercial do século XVIII e complexo de mineração aurífera que oferece um verdadeiro refrigério para os viajantes que exploram a beleza da região em dias quentes.
Quadrante superior: vista distante e próxima do Forte de Brumadinho. Quadrante inferior: belezas naturais da Serra da Calçada.
Vale destaque também a Serra da Moeda, considerada uma continuação da Serra da Calçada. Essa designação se deve ao fato da região ter abrigado nos tempos da colônia a primeira fábrica clandestina de fundição de moedas.
Entre Itatiaiuçu (do tupi "grande pedra pontuda") e Igarapé, munícipio vizinho a Brumadinho, localiza-se a serra que leva o nome da cidade e que contém a Pedra Grande, formação rochosa peculiar de 1.400m de altitude que é berço de nascentes importantes para a região.
Vista da Serra do Itatiaiuçu (à esquerda) e da Pedra Grande (à direita).
Serra da Piedade (Caeté - MG)
O Sabarabuçu é uma montanha lendária (do tupi "grandes olhos brilhantes") constituída de metal precioso. Em Minas, esse mito apontava para a Serra da Piedade como a representação do mito.
Localizada em Caeté, a montanha pode não ser de prata ou ouro como rezava a lenda, mas ocupa um lugar especial na Cordilheira do Espinhaço, abrigando o santuário de Nossa Senhora da Piedade e o Observatório Astronômico da UFMG.
Serra do Curral "del Rey" (Belo Horizonte - MG)

Trecho do poema de Carlos Drummond de Andrade na entrada do Parque da Serra do Curral.
Eleita pelos belorizontinos como símbolo da capital mineira em 1997, a Serra do Curral é um patrimônio que reúne grande diversidade geográfica e beleza ímpar, além de ser objeto de forte cobiça de mineradoras - como a Fleurs, Gute Sicht, Empabra e Tamisa - que desde tempos idos procuram explorar suas riquezas de forma irresponsável e nefasta.
Vista da Serra do Curral de diferentes pontos: os dois primeiros, a partir da Trilha da Crista, reinaugurada em 2025 após longo tempo fechada; na terceira, a partir de um mirante do Parque da Serra do Curral.
A Serra do Curral era conhecida anteriormente como Serra das Congonhas e, assim como outros relevos importantes da Cordilheira do Espinhaço, tornou-se uma referência para os bandeirantes.
Já no final do século XVIII existem registros de atividade minerára na serra em decorrência da descoberta de ouro. A consolidação do nome "Serra do Curral Del Rey" viria em seguida, baseada na existência do arraial e freguesia Curral Del-Rey, onde hoje está localizada Belo Horizonte, a substituta de Ouro Preto como a capital de Minas Gerais desde 1.897.
Vista da Serra do Curral de diferentes pontos da cidade. Na foto em destaque, um raro fenômeno no qual as nuvens encobriram a serra como uma cortina.
A exploração de minério na Serra do Curral intensificou nos anos 60 e acelerou ainda mais durante o regime militar impulsionada pelo anseio nacional-desenvolvimentista. Os desdobramentos negativos da extração minerária - detonações na serra, tremor no solo, rachaduras nos prédios - culminaram em esforços para o reconhecimento da importância do símbolo paisagístico de BH e o seu tombamento, o qual aconteceu de forma parcial em distintas esferas (municipal, estadual e federal).
Batalhas judicias são travadas em várias frentes e o objeto de interesse dessas querelas é esse incrível paredão que abriga a capital mineira na sua encosta. O temor é que o símbolo de Belo Horizonte tenha um fim parecido com o Pico do Cauê, em Itabira, terra de Carlos Drummond de Andrade, que alertava no mesmo poema exposto na entrada do Parque da Serra do Curral:
"Foi assolada toda a serra; de improviso derrubaram minhas tendas, abateram meus pavilhões. Vi os montes, e eis que tremiam. E todos os outeiros estremeciam. Olhei terra, e eis que estava vazia, sem nada nada nada."
Mata do Limoeiro (Ipoema - MG)
O nome de origem tupi que significa "água que brota da terra" descreve bem a cidade de Ipoema, distrito de Itabira, terra de Carlos Drummond de Andrade. É nessa pequena cidade que está localizado o Parque Estadual do Limoeiro em meio à Mata Atlântica com acessos a belas cascatas e cachoeiras.
O parque também tem no seu terreno a 1.221 metros de altitude o Morro Redondo, um mirante espetacular com uma singela capela e um cruzeiro. A altitude do local oferece a possibilidade de visualizar picos e chapadas típicos da Cordilheira do Espinhaço. Para além da beleza natural do lugar, a enorme escultura de um anjo (chamada "O Destino") tem o poder de deixar os visitantes atônitos e de incutir naqueles que visitam Ipoema a sensação de que essa é uma das cidades mais especiais da Estrada Real.
Registros do Morro Redondo e do belo Parque Estadual Mata do Limoeiro.
Serra do Cipó/Lapinha da Serra (Santana do Riacho - MG)
Denominada "Jardim do Brasil" pelo paisagista Burle Marx, a Serra do Cipó é uma província geológica do Espinhaço com rica fauna e flora. Dois picos se destacam na região: do Breu (1.687 metros) e da Lapinha (1.686 metros).
Paisagens da Serra do Cipó.
Uma das características mais marcantes da região é o fato desta servir como divisor natural das bacias hidrográficas do Rio São Francisco e Rio Doce mediante o belo Vale Travessão. Além do encanto cênico, as montanhas do Travessão oferecem um notório eco à voz do viajante, daqueles que teriam inspirado Milton Nascimento na sua tenra idade.
A primeira imagem no canto superior esquerdo é o lado da bacia do Rio São Francisco; a segunda, do Rio Doce; a última é uma vista ampla do Vale do Travessão.
A alcunha de "Jardim do Brasil" faz jus à flora da Serra do Cipó, na qual é possível encontrar diversas espécies, inclusive endêmicas, de canelas-de-ema, além de sempre-vivas, plantas carnívoras, cânforas e arnicas. Uma planta que merece destaque é a preciosa Vellozia Nanuzae, presente somente na região e amplamente estudada. Essa espécie também tem um doce aroma que lembra "tutti-fruti".

Vellozia Nanuzae, espécie rara e endêmica da Serra do Cipó que tem sido objeto de diversas linhas de pesquisa.
A Lapinha da Serra é uma seção da Serra do Cipó com paredões deslumbrantes e belas cachoeiras, como a do Lajeado e do Bicame. Ali também é o ponto inicial da travessia de mais de 30 km até Tabuleiro, povoado de Conceição do Mato Dentro que possui em seu território uma jóia da natureza apresentada na próxima seção.
Paisagens da Lapinha da Serra, incluindo um gafanhoto peculiar da fauna da região, as Sempre-Vivas representando a flora com o Pico da Lapimha ao fundo e diferentes perspectivas da Cachoeira do Bicame.
Serra do Intendente (Conceição do Mato Dentro - MG)
O Parque Estadual Serra do Intendente é fruto de um esforço de vários agentes em prol da proteção do complexo do Espinhaço. A unidade de conservação abrange os municípios de Tabuleiro e Itacolomi, distritos de Conceição do Mato Dentro.
No Parque Municipal do Ribeirão do Campo (mais conhecido como Parque Municipal do Tabuleiro) - localizado dentro do próprio Parque da Serra do Intendente - está a maior cachoeira de Minas, terceira do Brasil. A Cachoeira do Tabuleiro forma um coração dependendo da ótica e causa uma forte impressão sobre aqueles que avistam suas águas geladas caindo a 273 metros de altura. Não à toa é considerada uma das Sete Maravilhas da Estrada Real.
Paisagens da Cachoeira do Tabuleiro, a maior de Minas Gerais e uma das Sete Maravilhas da Estrada Real.
Pico do Itambé (Santo Antônio do Itambé - MG)
A cidade é pequena, mas não só foi a quarta do estado a ter imprensa escrita, como também acolhe a entrada para o parque estadual com paisagens cênicas e belas cachoeiras. O seu principal atrativo é a formação que dá nome ao parque: o Pico do Itambé ("pedra afiada" no tupi), com seus 2.002 metros de altitude.
Biribiri (Diamantina - MG)
Proveniente do tupi-guarani com o significado de "buraco grande", Biribiri é o nome da pequena vila - outrora uma comunidade fabril têxtil - inserida no parque que também carrega essa denominação.
O Parque Estadual do Biribiri se destaca pelas suas cachoeiras, fauna e flora típica do Espinhaço. Além disso, o local abrange o "Caminho dos Escravos", famosa travessia de 22km de Diamantina a Mendanha.
Parque Nacional das Sempre Vivas (Diamantina - MG)
Essa unidade de conservação foi criada mediante decreto em 2002 e abriga nascentes de afluentes do rio Jequitinhonha. O seu nome é uma clara referência ao símbolo da flora da Cordilheira do Espinhaço. O parque é administrado pelo ICMBio e visitas ao local devem ser previamente autorizadas.
Chapada Diamantina/Serra do Sincorá (Lençóis - BA)
Rompendo a fronteira de Minas, a Cordilheira do Espinhaço passa a abranger o bioma da caatinga, concentrando os maiores picos do Nordeste além de célebres paisagens e cavernas intrigantes. A Chapada Diamantina, localizada principalmente no município de Lençóis, corresponde a 15% do estado da Bahia, contém uma população de aproximadamente 400 mil habitantes e carrega registros antrópicos (fósseis e pinturas rupestres) que remontam a 12 mil anos.
Um componente fundamental da Chapada Diamantina é a Serra do Sincorá, uma cadeia de montanhas que foi núcleo da exploração de diamantes na década de 1.840 (daí o nome "Chapada Diamantina" como referência a esse período histórico) e viu muitos conflitos, desde indígenas e bandeirantes até barões e garimpeiros. O Sincorá tem grande riqueza natural, incluindo a existência de espécies encontradas apenas na região.
Flora
A Cordilheira do Espinhaço navega entre os biomas Cerrado (a savana brasileira) e Mata Atlântica, além da Caatinga na sua porção baiana. Essa abrangência do maciço oferece uma ideia da diversidade da sua vegetação.
Um dos destaques da flora do Espinhaço é a Canela-de-Ema, planta resistente ao fogo que serve de fonte de alimento e abrigo para animais da região.

Placa informativa na Trilha da Serra do Curral sobre a vegetação local citando a Canela-de-Ema.
Na Serra do Cipó, espécies endêmicas da Canela de Ema têm presença significativa nos campos rupestres da região. Algumas ocorrências se dão em rochas, mostrando a capacidade peculiar dessa planta de crescer em solos difíceis.
Variedadas da Canela-de-Ema na Serra do Cipó.
A Embaúba é uma árvore que alcança altitudes de até 15 metros e se destaca pelo aspecto prateado das suas folhas, as quais se observadas de perto, se assemelham a orelhas de coelho. A sua beleza também traz uma informação importante, pois ela é indicadora de bioma em recuperação após intervenção humana (mata secundária).
O principal símbolo do Espinhaço é a Sempre-Viva. Estima-se que 70% da proporção mundial dessa planta está concentrada na Cordilheira. Trata-se de uma flor com alto apelo ornamental e detentora de um simbolismo associado à resistência e longevidade.
As Sempre-Vivas na Cordilheira do Espinhaço. Essas ocorrências são na Serra do Caraça, Lapinha da Serra e Serra do Cipó.
Fauna
A fauna do Espinhaço é rica e de profunda diversidade, contendo várias espécies endêmicas e vulneráveis ao risco de extinção. A escolha dos dois animais detalhados a seguir não representa toda a magnitude da população da Cordilheira, mas oferece uma perspectiva resumida da biodiversidade animal no precioso maciço a partir de espécies mais facilmente vistas em trilhas ou até mesmo nas cidades abraçadas pelo Espinhaço.
O Carcará é um animal famoso no imaginário brasileiro, tendo até inspirado uma canção composta por João do Vale e Chico Buarque nos anos 80. Apesar de ser conhecida como a "águia do sertão", trata-se de uma ave de rapina com distante parentesco com os falcões.
O seu nome é uma onomatopeia em relação ao seu canto. É uma ave característica da Cordilheira do Espinhaço e que, além de ter uma beleza exuberante, adquiriu fama de predador contumaz que se alimenta de praticamente tudo, desde frutos e invertebrados até pequenos animais, sejam vivos ou mortos. A imagem abaixo dá uma amostra do seu poder de caça.

Dois carcarás após caçarem pombos na parte urbana de Belo Horizonte, próximo à Serra do Curral.
O lobo-guará é uma espécie de canídeo endêmico da América do Sul. Animal típico do Cerrado, e por consequência, encontrado no Espinhaço, tornou-se símbolo de cédula monetária no Brasil.
Apesar de não estar oficialmente em situação de perigo de extinção, a espécie é considerada vulnerável diante da destruição antrópica do Cerrado, além da dificuldade do seu processo reprodutivo, marcado pela alta mortalidade dos seus rebentos.
Acredita-se que no Santuário do Caraça (na Serra do Caraça, porção sul do Espinhaço), existe apenas um casal de lobos, pois é uma espécie territorialista que demarca, geralmente, em torno de 2.500 hectares.
O Santuário se orgulha da "Hora do Lobo", na qual o animal se alimenta no adro da Igreja. Essa prática não compromete seu hábito de caça (os lobos são monitorados e estudados por equipes especializadas). Ademais, apesar de um pouco arisco e desconfiado, o animal é dócil, o que torna a sua janta na entrada da catedral um evento turístico seguro.
Toda essa história teve início em maio de 1982, quando lixeiras começaram a aparecer reviradas no Santuário. A hipótese de um cachorro ser o motivo para tal acontecimento foi logo rechaçada com a descoberta do animal na região. A partir daí, a "Hora do Lobo" tornou-se uma tradição que já dura mais de 40 anos.
História: A Estrada Real
A Estrada Real é uma referência às principais vias que detinham o propósito de transportar os minerais preciosos extraídos no período colonial. Esses caminhos aproximaram diversas regiões do território brasileiro e se tornaram eixos de urbanização na região Sudeste. Minas Gerais concentra a maior parte da Estrada Real no seu território, sendo que esta tem uma conexão profunda com a Cordilheira do Espinhaço, fonte de riquezas minerais cobiçadas desde a Coroa Portuguesa até as mineradoras dos tempos hodiernos.
A estrutura e relevância da Estrada Real pode ser bem compreendida através dos seus quatro caminhos principais: Caminho Velho (Caminho do Ouro)


Caminho dos Diamantes


Caminho do Sabarabuçu


Caminho Novo (Caminho de Garcia Rodrigues Paes)


Por mais que esses caminhos se estendam a outros estados e biomas, o Espinhaço está presente em todos eles.
As Sete Maravilhas da Estrada Real
Parque Nacional da Serra do Cipó
Santuário do Caraça
Teatro Municipal de Sabará
Praça Minas Gerais
Gruta da Lapinha
Cachoeira do Tabuleiro
Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida*
Dentre as Maravilhas da Estrada Real, apenas o Santuário de Aparecida está fora dos domínios da Cordilheira.
Obs: Um projeto turístico deu origem à ideia do Passaporte da Estrada Real. Com ele, o viajante pode registrar as suas visitas às cidades dos caminhos apresentados acima com carimbos oficias de cada localidade.
Esse texto continuará a ser atualizado a partir de novos relatos, experiências e registros sobre o Espinhaço. Todas as fotos aqui utilizadas foram tiradas por conta própria, refletindo uma perspectiva pessoal da Cordilheira. As imagens abaixo ratificam que esse colosso do meio ambiente nunca deixará de impressionar os viajantes sedentos por belezas naturais.
Referências
Diversas fontes, desde estudos acadêmicos ao conhecimento informal obtido através de trilhas foi utilizado nesse texto. A lista a seguir contempla boa parte do conteúdo aqui colocado:
Sites sobre a Cordilheira do Espinhaço e Estrada Real:
Guia da Serra do Cipó com amplo conhecimento da fauna/flora local
Artista da Serra do Cipó responsável pelos bonequinhos de arame nas cercas
Estudo sobre a Geomorfologia da Cordilheira do Espinhaço
https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistageonomos/article/view/11521
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