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[Semana 8/52] Panorama semanal


Cenário internacional


Não foi uma semana tranquila nas bolsas internacionais, principalmente para os índices amplos estadunidenses. A narrativa de uma espiral inflacionária, já discutida no último panorama, continuou a dar o tom nos mercados globais.


Alguns movimentos que refletiram de forma mais clara essa expectativa de reflação foram:

  • Juros longos (30 anos): na semana passada foi discutida a forte alta na taxa dos títulos estadunidenses de 10 anos. A ponta mais longa da curva de juros, no caso a de 30 anos, também subiu em vários países, incluindo Alemanha e Itália.

  • Commodities: essa classe de ativos é considerada um hedge (proteção) contra a inflação com base no seu comportamento histórico. Os barris de petróleo, por exemplo, tiveram forte alta em fevereiro (WTI +19% e Brent +17%) e desencadearam problemas para a Petrobras aqui no Brasil e alta no IGP-M (mais sobre isso adiante).

Diante desse cenário, os investidores voltam a sua atenção para os bancos centrais, questionando como as autoridades monetárias reagirão a essa expectativa altista de inflação a nível global. O episódio do "Taper Tantrum" em 2013 - quando o Fed sinalizou que a intensidade dos estímulos monetários poderia ser reduzida e causou pânico no mercado de renda fixa - foi lembrado no decorrer dessa semana.


A grande questão é se o Fed pode manter a taxa de juros próxima de zero enquanto a expectativa de inflação sobe tão rapidamente. Caso ocorra uma elevação de juros nos Estados Unidos (cenário até distante, mas não improvável), a situação pode ficar bem desfavorável para os emergentes, que devem sofrer com a fuga de capital para títulos estadunidenses, fenômeno denominado "Flight to Quality" (Voo para a Qualidade).


As incertezas que rondam os mercados refletem no VIX (apelidado carinhosamente de "índice do medo"), que tem demonstrado um patamar de volatilidade no mercado acionário estadunidense acima da média histórica.


Níveis recentes do VIX refletem uma volatilidade acima do comportamento pré-pandemia

Fonte: TradingView


Cenário doméstico


Nessa semana foi oficializada a troca de comando na Petrobras forçada por Bolsonaro. De saída, Roberto Castello Branco deu suas últimas palavras aos investidores usando uma camiseta com a mensagem "Mind the gap" (Cuidado com o vão), não se sabe se intencionalmente, ironicamente ou inocentemente. O ex-presidente da estatal explicou que a alusão ao aviso do metrô londrino é um chamado para que a Petrobras feche o "gap" com os demais competidores do setor.


Falando em queda no vão, as ações da Petrobras tiveram uma desvalorização vertiginosa na semana (-18,62%) e até ensaiaram uma recuperação com investidores querendo comprar o fundo ("Buy the Dip"), mas o papel ainda está longe de retomar seu patamar pré-interferência política.


Nesse sentido, o presidente procurou dar sinais mais favoráveis ao mercado no decorrer da semana, com o envio do projeto de privatização da Eletrobrás e dos Correios ao Congresso. A percepção predominante, no entanto, é de que a agenda liberal, tão louvada no início do seu governo, sofreu uma derrota definitiva com a troca de comando na Petrobras.


E não para por aí. Rumores indicam que André Brandão, atual presidente do Banco do Brasil, deve entregar o cargo nos próximos dias em decorrência de um desgaste com o presidente. As ações do banco estatal caíram -4,92% no pregão de sexta (26/02).


Não à toa o CDS Brasil de 5 anos, uma das medidas mais relevantes de percepção de risco em relação ao país, subiu quase +20% nessa semana.


O câmbio também refletiu o mix de risco político e fiscal do país. O real brasileiro é a moeda emergente mais depreciada frente ao dólar estadunidense nesse início de 2021, perdendo apenas para o peso argentino.


A comparação abaixo contém Peso Mexicano, Lira Turca e Peso Argentino, além do Real Brasileiro.


Depreciação de moedas emergentes frente ao dólar em 2021 (variação positiva = moeda mais fraca frente ao USD)


O agora autônomo Banco Central, inclusive, teve que entrar em cena algumas vezes nos últimos dias através de leilões de dólar para conter a escalada da divisa estadunidense frente ao real.


Outra dor de cabeça para o Bacen é a inflação, influenciada pela própria depreciação do real e aumento nos preços das commodities a nível global. O IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado), utilizado principalmente para reajuste do aluguel, subiu +2,53% em fevereiro, acumula alta de +5,17% em 2021 e está com +28,94% nos últimos 12 meses (!). A última leitura do indicador mostrou que o principal vilão desse movimento foi a gasolina, que subiu 17,43% e elevou o componente IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo). Isso deve refletir no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), para o qual a expectativa refletida no FOCUS mostra um patamar acima do centro da meta para 2021.


Ponderando os eventos que ocorreram desde a última decisão de juros, é muito alta a probabilidade do Bacen subir a SELIC na reunião de março (16/03 a 17/03). Se a alteração (caso ocorra mesmo) será de 25 ou 50 pontos-base, ninguém sabe.


Façam suas apostas.


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