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[Semana 36/52] Panorama semanal

A imagem de capa é a pintura Peacemakers (1868) de George Healy. A obra retrata a reunião entre o presidente Lincoln e autoridades militares que acabaria selando o fim da Guerra Civil dos Estados Unidos. Segundo David Porter, um dos participantes do encontro (canto direito), um simples passo em falso prolongaria indefinidamente o conflito, o que, guardadas as devidas proporções, se assemelha aos eventos dessa semana no Brasil.

 

Cenário internacional


A vacinação é um ponto nevrálgico nos Estados Unidos. O motivo não é a indisponibilidade de imunizantes, desafios logísticos ou baixa eficácia - problemas que outros países enfrentam - mas sim a discussão em torno da obrigatoriedade de tomar as doses e a importância dos “passaportes de vacina” para o cidadão estadunidense.


Nessa semana, o presidente Biden assumiu uma postura clara em relação ao tema após estabelecer o mandato de vacinação, medida que deve afetar cerca de 100 milhões de pessoas no país, incluindo trabalhadores do setor privado e da saúde.


Segundo o presidente, a recusa da minoria não vacinada tem alto custo e está causando muito dano em meio ao avanço da variante delta em território estadunidense. Os opositores falam de radicalismo ao se referirem à proposta.


Enquanto isso, o setor imobiliário na China enfrenta um momento de inflexão. Composto por empresas extremamente endividadas para os padrões globais, o segmento enfrenta uma desaceleração mediante as medidas do governo chinês para desalavancar a economia.


Nesse contexto, a gigante Evergrande vive o seu momento “Lehman Brothers”: a incorporadora (a mais endividada do mundo) está à beira do colapso e não tem garantia de resgate pelo Partido Comunista. Uma coisa é praticamente certa: caso ocorra a falência, o contágio para outras companhias e setores na China pode ser grave e agudo.


Nessa semana, as principais agências de rating rebaixaram a nota dos títulos de dívida da gigante para níveis próximos a Default. As ações da empresa caíram mais de 80% nas últimas semanas.


Após apertar a regulação sobre o setor educacional e até mesmo de games, o Partido Comunista tem em suas mãos uma decisão fundamental para a sua economia em relação à Evergrande. O mercado internacional estará de olho na reação do governo chinês.


Cenário doméstico


O 7 de setembro carregava um cheiro de confusão política. Para os mais receosos, havia a possibilidade de golpe de Estado, mas os atos de apoiadores do atual governo foi mais do mesmo: camisas verde-amarelas e pautas conservadoras.


O presidente fez discursos acalorados em Brasília e São Paulo, atacando principalmente o ministro Alexandre de Morais do STF. As frases ríspidas e ousadas do mandatário deixaram o clima ainda mais pesado entre os poderes.


No dia seguinte, o estarrecimento perante o que foi dito por Bolsonaro apareceu de diversas formas, desde declarações dos líderes do Congresso Nacional até a queda de -3,78% da bolsa, o seu terceiro pior pregão em 2021. O dólar também disparou na ocasião, refletindo uma aversão ao risco por parte dos investidores. Além disso, Fux respondeu de forma contundente os ataques do presidente ao Poder Judiciário, citando até mesmo um possível "crime de responsabilidade" do presidente.


Tanto o cheiro de golpe quanto o de impeachment foram dissipados no dia 09/09 com a divulgação de uma carta escrita por Michel Temer, porém atribuída a Bolsonaro. A Declaração à Nação é uma capitulação do presidente em relação à sua postura inicial em decorrência das graves consequências que o ambiente político dividido causa ao cenário socioeconômico:

Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum.

O mercado financeiro celebrou com um estrondoso rali no Ibovespa e queda forte no dólar na ocasião, mas o saldo da semana foi ruim nas duas frentes.


Desse episódio, podem-se tirar alguns aprendizados:

  • A carta seria uma bela bandeira branca se fosse levantada por Bolsonaro e não outra pessoa. Portanto, essa trégua entre os poderes é frágil;

  • Queridinho da Faria Lima, Temer volta ao cenário político acenando com a possibilidade de representar a terceira via em 2022;

  • Bolsonaro sai enfraquecido perante a sua base ao corroborar a carta de Temer e retroceder, postura que decepcionou o seu núcleo-duro. É possível que o presidente veja a sua baixa popularidade se deteriorar ainda mais.

O frisson na política certamente tirou a atenção de outro fato importante que ocorreu na semana: a divulgação do IPCA de agosto, com acumulado de 9,68% nos últimos 12 meses, cada vez mais distante da meta do Bacen. O COPOM pode se ver obrigado a realizar um ajuste ainda mais agudo na SELIC. Um aumento acima de 100 pontos-base na próxima reunião (21-22 de setembro) é uma possibilidade bem factível com esse cenário deteriorado.

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