Cenário internacional
Exposição ao ciclo de commodities, potencial de crescimento populacional, risco de calote da dívida pública e mercados menos eficientes. Os países emergentes têm sua combinação de riscos e oportunidades que os tornam componentes atrativos de um carteira diversificada para um investidor internacional. Quem deseja alocar seu capital nesses mercados, no entanto, precisa estar preparado para eventos como o ocorrido na Turquia recentemente.
O presidente Recep Erdogan demitiu o líder do banco central do país devido à sua condução "hawkish" da política monetária. Erdogan é defensor ferrenho de juros baixos na Turquia, ainda que a moeda do país seja uma das mais depreciadas frente ao dólar na categoria dos emergentes e a inflação local esteja elevada.
Mas Erdogan não está sozinho. O presidente turco é mais um "Bad Boy" dos líderes de mercados emergentes.
No Brasil, Bolsonaro já mostrou suas garras ao trocar o presidente da Petrobras e ameaçar intervir diretamente nas estatais do setor elétrico. Um atenuante foi a aprovação da autonomia do BC do país.
Na Índia, o carismático e nacionalista Narendra Modi faz vistas grossas à perseguição de islamistas no país. Dentre as suas aventuras econômicas, Modi foi responsável pelo episódio de desmonetização em 2016 que causou diversos problemas no sistema de pagamentos do país à época.
No México, López Obrador tem uma postura desastrosa na condução da pandemia, tornando o país um dos epicentros da doença no continente americano e uma das economias mais duramente atingidas pela Covid-19.
A questão é que essas lideranças aumentam o risco dos investidores nesses mercados devido ao potencial de spillover (transborde, transmissão) para outros emergentes, como ocorreu com a Crise da Rússia em 1998.
Uma narrativa recente no mercado de ações dos Estados Unidos é a possível rotação de ações "growth" para "value". Em outras palavras, investidores podem aumentar o peso de companhias consolidadas e maduras no seu portfólio em detrimento de empresas com alto potencial de crescimento e maior risco de negócio como as techs.
Um sintoma desse fato é a performance do índice Nasdaq (IXIC), representante das ações de tecnologia do país, cujo desempenho relativo está abaixo do S&P 500 e Dow Jones em 2021.
Vale, no entanto, ressaltar dois fatores: a janela de tempo ainda é curta para apontar esse fenômeno; além disso, as techs também tem peso relevante no S&P 500, mas este índice tem maior diversificação setorial.
Chama atenção não só a performance do índice Nasdaq, mas também sua volatilidade. Em tempos de incerteza sobre um mundo pós-pandêmico, medo de inflação e múltiplos de valuation na lua, os ativos que compõem esse índice tendem a sofrer mais.
Fonte: Investing.com
Evidentemente que o curioso caso do navio Ever Given bloqueando o Canal de Suez não poderia deixar de ser citado nesse panorama. Apesar do aspecto cômico, a situação pode ocasionar perdas significativas no comércio global caso a resolução do problema dure semanas.
Estima-se que 12% do fluxo comercial passa pela via marítima, considerada o caminho mais curto entre Europa e Ásia. Além disso, o canal de Suez é um importante acesso de navios petroleiros devido à sua proximidade com o Oriente Médio. Não à toa o preço dos barris da commodity tiveram uma semana movimentada.
Cenário doméstico
O Brasil teve mais uma semana difícil no combate à pandemia de coronavírus e registrou dois recordes sombrios: mais de 3 mil mortes diárias e um total de óbitos acima de 300 mil. A taxa de ocupação de UTIs em diversos estados está próxima ou até acima de 100%, enquanto o receio é de que a variante brasileira esteja levando os estratos mais jovens da população a um quadro mais grave da doença.
Uma boa notícia, no entanto, lançou um feixe de esperança nesse momento difícil: o Butantã desenvolveu uma vacina própria*, a Butanvac, a qual será testada e pode até ser utilizada daqui a 3 meses, segundos estimativas otimistas.
Na esteira da incompetência política na condução do país em meio à crise sanitária, o Congresso parece ter perdido a paciência.
No decorrer da semana, o presidente da Câmara, Arthur Lira, deu um discurso contundente no qual criticava a espiral de erros do governo e demais envolvidos no combate à pandemia, sinalizando que o Poder Legislativo pode utilizar "remédios políticos" caso esse cenário continue. A interpretação é de que Lira teria aberto as portas para um possível processo de impeachment no futuro com a participação do "Centrão".
E a pressão do Congresso sobre o governo não parou por aí. Também na última semana, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, participou de uma audiência frente a senadores na qual foi duramente criticado pela falta de articulação internacional do Brasil na busca pelas vacinas. Espera-se que o Senado trave demandas do Itamaraty na casa legislativa visando minar Araújo. Bolsonaro já avalia demiti-lo, mas espera uma ocasião oportuna.
Não se sabe se a pressão dos senadores é necessária para que o ministro seja sacado, uma vez que a sua incompetência e inaptidão falam por si só. Araújo não só já afirmou que o coronavírus potencializa o avanço do comunismo como já foi repreendido publicamente em Israel por não utilizar máscara durante um evento no país. As patacoadas do ministro o tornam um alvo atraente no "tiro ao pato" que já derrubou Weintraub e Pazuello.
Depois dele, virão outras quedas? Ministros ineptos não faltam.
Se a máxima do futebol de que em "time que está ganhando não se mexe" for verdadeira, já é possível saber o que está ocorrendo na administração atual.
* Há controvérsias se a vacina foi de fato desenvolvida no Brasil ou nos Estados Unidos.
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